‘Ninguém é feliz o tempo inteiro’, diz Fernanda Souza

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Aos 33 anos, Fernanda Souza voltou a morar em São Paulo e junto com ela levou todo o esquema de gravações do ‘Vai Fernandinha’, programa que ela apresenta no Multishow. Agora na terceira temporada, a atração recebe nomes como Sasha, Pabllo Vittar, Sandy e Lucas Lima, Cláudia Raia e o grupo Rouge para um bate papo mais intimista e brincadeiras descontraídas. E parece que após 18 anos de atuação, Mili (quer dizer, Fernanda), se encontrou mesmo como apresentadora. Ela já tem seu próprio canal no Youtube, onde além de algumas entrevistas com grandes nomes da mídia, também se dedica a falar de assuntos diversos para entreter o público, como por exemplo dar dicas de beleza. Na entrevista abaixo ela conta um pouco dos bastidores do programa, da sua descoberta como apresentadora e vida pessoal.

Você foi atriz praticamente sua vida inteira. Foram 18 anos dedicados às novelas. Qual o maior desafio de ser apresentadora?

Eu fui, eu sou e vou continuar sendo atriz pelo resto da minha vida (risos). Foram 18 anos de novela na Globo, mais dois anos antes em “Chiquititas”. E antes disso, eu comecei como atriz com uns 10 anos, fiz minha primeira novela, que foi “Razão de viver”, no SBT. Eu nunca vou deixar de atuar. Eu amo me comunicar como um todo. Geminiana, né!? (risos) A nossa característica é a comunicação. Eu gosto de me comunicar através de uma personagem, com um texto escrito por um autor e toda criação que existe em torno daquela persona. Mas, ao mesmo tempo, descobri que poderia agregar à minha profissão uma outra forma de comunicar, que é ser apresentadora. Está sendo muito gostoso. Acho que o maior desafio disso tudo foi a coragem de correr atrás. Eu sabia que o não eu já tinha. E eu nunca tive medo de correr atrás do sim. E foi o que aconteceu. Esse sim veio. Mas antes desse sim acontecer, eu pedi muito a Deus para que isso acontecesse, que se fosse meu e eu merecesse, que Ele guiasse meu caminho. E aí aconteceu. Sou muito grata a Deus e ao universo por me darem força para correr atrás dos meus sins na vida

Nas primeiras reuniões para definir como seria o “Vai Fernandinha”, eu me lembro muito bem que o Guilherme Zattar, que é meu boss (risos), ele sempre me dizia isso: nunca deixe de ser você, eu preciso que o programa tenha a sua cara. É isso que eu quero porque acho que a maneira como você se comunica (naquela época, a gente ainda usava o Snapchat), é a maneira como o canal se comunica. Vocês falam a mesma língua. Então, eu preciso que você não perca isso. E você tem carta branca para se envolver em todos os processos. Tanto que ele me perguntou como eu queria fazer o programa, quem eu gostaria de chamar. Ele me apresentou uma produtora, que é a produtora Floresta, aqui de São Paulo, e a dona da produtora, a Elisabeta. Ele falou: preciso que você conheça ela para saber se vocês se gostam, se vocês se dão bem para trabalharem juntas. Eu perguntei se poderia trazer o Rafael Vieira, que era um grande amigo e um super diretor, que é filho do Talma, com quem eu já tinha trabalhado. E ele me disse que óbvio, que eu poderia sim escolher o Rafa para ser o diretor. Depois disso, só fui me aproximando cada vez mais de todo processo, desde as reuniões de roteiro, que a gente faz um mês antes, para decidir o que a gente vai fazer com cada convidado. Quando os roteiros estão prontos, tem que ter uma aprovação final para que eu me sinta à vontade para fazer tudo aquilo com o convidado, para que flua e para que a gente não perca aquilo que o Guilherme pediu lá atrás, de ter a minha cara. Depois, eu vejo todos os episódios mais ou menos umas duas ou três vezes para poder escrever as hashtags e dar o ok final, pedir para tirar ou acrescentar alguma coisa que eu lembre. Porque nós gravamos quatro horas de conteúdo, mas só vão ao ar cerca de 42 minutos. O Rafa e a equipe de produção têm um trabalho incrível de tirar o melhor dali de dentro. É um processo gostoso, intenso, uma entrega muito grande. É muito gostoso se fazer, sabe!? Eu nunca fiz nenhum trabalho em que eu estivesse 100% ali dessa maneira, que eu pudesse participar de toda criação artística. Essa oportunidade que o canal me deu eu nunca vou esquecer. Participar de todas as etapas do “Vai Fernandinha” tem me ensinado muito.

Seus convidados costumam ficar com um pé atrás com medo de polêmica?

Não (risos). Meus convidados sabem bem que eu não toco em polêmica, não falo sobre nenhum assunto que eu sei que pode gerar uma polêmica, que seja algo delicado para eles… Acho que por estar do outro lado também, do lado dele, eu sei que tem horas que a gente não quer falar sobre determinados assuntos. Acho isso natural. E o “Vai Fernandinha” é um programa de entrevista, mas eu vejo ele como um programa de homenagem. O que a gente faz ali é ter um estudo muito grande. Eu recebo um calhamaço de 10 – 15 páginas de cada convidado sobre a vida deles. Eu estudo completamente a vida deles, sei tudo o que já fizeram, para justamente em cima desse material criar algo que seja pertinente em relação às brincadeiras, ao presente e até mesmo às perguntas, para ser um programa que tire o melhor do que aquele convidado tem a oferecer. Eu quero que o fã que já conhece se apaixone mais ainda. E eu quero que quem não conhece tão bem aquela pessoa e tem curiosidade saia dali encantado por aquela figura. Então, eu estou ali como uma escada para ver aquele personagem, aquele convidado subir e brilhar e ser muito homenageado. É isso que a gente quer com o “Vai Fernandinha” e é isso que eu quero como apresentadora: tirar o melhor do convidado e fazer com que ele brilhe muito.

Qual foi a entrevista que você mais gostou de fazer?

É tão difícil escolher uma entrevista. Porque todas as pessoas que passam pelo programa são pessoas que eu admiro e que eu tenho um real interesse em saber da vida delas e tirar esse melhor que a gente sempre quer tirar para mostrar para o público. A primeira lista de convidados quem manda sou eu. Desde o começo, o Multishow pediu que fosse dessa maneira. Eu mando e aí volta com os convidados que eles também concordam e aí a gente começa a tentar casar as agendas. Na verdade, essa é a parte mais difícil. Mas, por todo mundo que está ali, eu tenho uma verdadeira admiração. Agora, pensando assim como um todo, um dia muito marcante de entrevista para mim foi o episódio da Claudia Raia. Primeiro, obviamente, porque ela é um ícone da televisão brasileira, do teatro. É uma das grandes personalidades, das grandes artistas que a gente tem no nosso país. Uma imagem incrível tanto na pessoa física quanto na pessoa jurídica (risos). Admirada por muitas pessoas. Praticamente uma unanimidade porque é impossível não gostar daquela mulher (risos). E foi muito especial porque eu tenho uma ligação pessoal com ela muito grande. Então, foi muito gostoso tê-la ali trabalhando e como uma grande amiga, uma pessoa que é praticamente uma mãe para mim. E esse dia foi duplamente especial porque o Jô Soares subiu no set para visitar a Claudia e eu me lembro que fiquei em estado de choque. Eu sei que ele mora no apartamento embaixo de onde eu gravo o programa, mas nunca imaginei que ele fosse subir. Mas como ele é louco pela Claudia, são amigos há zilhões de anos, ele subiu para dar um beijo nela. E eu me lembro nitidamente de sentar no sofá, depois que ele foi embora, para continuar a entrevista, porque ele aparecceu e a gente parou tudo para falar com ele, e eu lembro que eu sentei no sofá e falei: meu Deus, como o Senhor é generoso comigo. Eu lembrei que era uma criancinha que fazia teste, que a vida inteira morou na Zona Leste, ralou para dedéu, pegou zilhões de ônibus nessa vida para poder fazer teste de comerciais para dali, quem sabe, fazer um papel numa novela. Aí fiz, durante anos, novelas.Aí me vejo apresentando um programa de televisão, tendo a honra de entrevistar a Claudia Raia e receber uma visita no set do Jô Soares, que são dois grandessíssimos artistas. E eu fiquei muito agradecida por ter recebido esse presente. Eu me lembro de falar isso: meu Deus, como o Senhor é bom comigo. Eu sou só uma menininha que um dia quis fazer tudo isso e agora estou tendo a oportunidade de ter essas duas lendas da televisão aqui em um programa meu. Esse dia foi realmente muito especial para mim.

O que você não revela no ‘Meu Passado Não Me Condena’?

Eu não revelo o que não cabe (risos). Não cabe porque não dá tempo de contar tudo. Tem algumas coisas que não dá para contar porque não tem tempo mesmo. Eu estou em cartaz há cinco anos com o espetáculo, eu já tive que fazer algumas alterações, tirar algumas coisas, colocar outras coisas que foram acontecendo… Eu conto, na peça, mais ou menos até o ano de 2015. A gente já está em 2018 (risos). Tem três aninhos aí de histórias que não deu para contar tudo. Mas vou pegando as principais coisas e vou contando. Acho que só fica de fora aquilo que não dá para contar em uma hora e 15 – 20 minutos, que é o tempo do espetáculo.

Quais os critérios na hora de escolher quem convidar para participar do canal?

Acho que o maior critério de todo, por incrível que pareça, é agenda. A Claudia (Raia, atriz) eu queria levar desde a primeira temporada e ela só conseguiu ir na terceira. Quando a pessoa está gravando novela é muito difícil a gente conseguir liberação por causa das datas e eles estão sempre em função das tramas. E o programa sendo em SP dificulta um pouco mais. Esse é o primeiro critério. O segundo, eu acho que tem que ter uma admiração mútua do canal (Multishow) e minha. Não é uma escolha de um lado só. A gente entra num consenso. E a pessoa querer participar também é um ponto. E topar fazer as brincadeiras. A gente deixa os convidados muito à vontade se não quiserem fazer alguma brincadeira, mas isso nunca aconteceu (risos). As pessoas até pedem para fazer certas brincadeiras. Essa temporada a gente fez uma piscina de bolinha. E ela é extremamente divertida. E o pessoal queria se jogar. Luan (Santana), no meio da entrevista, pediu para mergulhar. A Pablo (Vittar) não queria ir embora dali. E é muito gostoso ver todos se divertirem e se entregando. Quando o programa vai ao ar, eu entro para comentar. E fico feliz de ver ele sempre ali na lista dos cinco mais comentados do país. E é legal ver os comentários das pessoas falando que os artistas se soltam ali. O clima do Vai Fernandinha é esse. O artista vai ali sabendo que está num território seguro. Nós estamos ali para homenagear. Queremos que eles se entreguem e se divirtam ali.

Como costuma ser sua rotina em meio a programa, Youtube e vida de casada?

O ano passado foi bem puxado. Eu tinha o programa, a peça, o canal no Youtube… E a vida pessoal. Sou geminiana. A gente gosta de fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo. Para mim não é tão difícil, mas é claro que cansa. Mas quando você está fazendo um bando de coisa que você ama, nada é ruim. Ao contrário, é muito gostoso. Mas dá para conciliar. Eu diminuo o ritmo do canal quando estou gravando o programa. Esse ano, durante todos os 45 dias de gravação e os 30 antes de preparação, eu não vou fazer peça. O canal eu costumo a gravar a cada dois meses. Gravo dois dias, uns 15 vídeos. E eu amo gravar para o canal, eu me divirto horrores. Ano passado é que foi bem complicado (risos). Eu estava morando num apart-hotel, porque meu apartamento estava em obra. E estava aquela loucura a vida. Esse ano eu vou tirar de letra. Não vou estar fazendo peça, canal estará todo gravado, casa esta organizada, vai ser mamão com açúcar.

Como você e Thiaguinho lidam com o assédio com o outro? São ciumentos?

As pessoas são extremamente carinhosas com a gente. Muito queridas. Quando estão comigo, falam do Thi. Quando estão com ele, falam de mim. Estamos juntos há muito tempo, já são sete anos. Acho que as pessoas não conseguem nem desvencilhar um do outro. Quando olha para um já lembra do outro. É impressionante o carinho que tem com a gente na rua. Elas enxergam o nosso amor e são gentis com a gente. É gostoso de ver. A gente meio que se sente da família.

Conte uma mania curiosa que você tem e quase ninguém sabe.

Esse é o tipo de coisa que a gente sabe que um dia vão perguntar e você está em casa e pensa: “Aí uma mania que vou contar” (risos). Aí você não lembra quando perguntam, porque não anotou no bloco de notas do telefone. Eu acho que não tenho nenhuma mania estranha (risos). Acho que a minha mania é falar besteira, dar risada. Eu adoro dar risada. Gosto de me divertir, de levar a vida de uma maneira leve. Isso me faz viver. Mas, ao mesmo tempo, eu respeito os meus momentos tristes também. Vamos combinar, ninguém é feliz o tempo inteiro./ L dias

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