Coreia do Norte afirma que alcançou objetivo nuclear com míssil que pode atingir EUA

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(FILES) This file picture taken and released on July 4, 2017 by North Korea's official Korean Central News Agency (KCNA) shows the test-fire of the intercontinental ballistic missile Hwasong-14 at an undisclosed location. North Korean leader Kim Jong-Un said on November 29, 2017 his country had achieved full nuclear statehood after what he said was the successful test of a new missile capable of striking anywhere in the United States. / AFP PHOTO / KCNA VIA KNS / - / South Korea OUT / REPUBLIC OF KOREA OUT ---EDITORS NOTE--- RESTRICTED TO EDITORIAL USE - MANDATORY CREDIT "AFP PHOTO/KCNA VIA KNS" - NO MARKETING NO ADVERTISING CAMPAIGNS - DISTRIBUTED AS A SERVICE TO CLIENTS THIS PICTURE WAS MADE AVAILABLE BY A THIRD PARTY. AFP CAN NOT INDEPENDENTLY VERIFY THE AUTHENTICITY, LOCATION, DATE AND CONTENT OF THIS IMAGE. THIS PHOTO IS DISTRIBUTED EXACTLY AS RECEIVED BY AFP /

A Coreia do Norte afirmou nesta quarta-feira, 29, que alcançou o objetivo de tornar-se um Estado nuclear depois de testar um novo tipo de míssil balístico intercontinental (ICBM, na sigla em inglês), que segundo Pyongyang pode atingir todo o território continental dos Estados Unidos.

Em mensagem reproduzida pela TV estatal, o líder norte-coreano, Kim Jong-un, afirmou que o teste com o míssil Hwasong-15 foi um sucesso. “O ICBM Hwasong-15 é um míssil balístico intercontinental com uma ogiva de grande tamanho capaz de atingir todo o território continental dos EUA”, destacou a agência de notícias norte-coreana KCNA.

Ainda de acordo com TV estatal do país, o míssil é “significativamente mais poderoso” do que o testado em setembro e voou uma distância de 950 quilômetros por 53 minutos, atingindo altitude de quase 4,5 quilômetros.  A emissora também descreveu a Coreia do Norte como uma “potência nuclear responsável”.

Muitos especialistas na área nuclear afirmam que a Coreia do Norte ainda precisa provar que dominou todas as barreiras técnicas, incluindo a capacidade de instalar uma pesada ogiva nuclear de maneira confiável em um ICBM, mas eles acreditam que isso ocorrerá em breve.

“Não temos que gostar disso, mas vamos ter que aprender a conviver com a capacidade da Coreia do Norte de atingir os Estados Unidos com armas nucleares”, disse Jeffrey Lewis, chefe do programa de não-proliferação para o leste asiático do Instituto Middlebury de Estudos Estratégicos.

Frustração

O novo lançamento de míssil balístico por Pyongyang, depois de dois meses sem disparos, abala os esforços diplomáticos do presidente americano, Donald Trump, em sua recente viagem pela Ásia que, segundo ele, tinha como objetivo “unir o mundo contra a ameaça do regime norte-coreano”.

O novo disparo levou Estados Unidos, Japão e Coreia do Sul a solicitarem uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU. A reunião será realizada nesta quarta às 19h30 (hora de Brasília).

O secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, exortou Pyongyang a “desistir de tomar qualquer possível passo desestabilizador no futuro”. Guterres qualificou o teste de “clara violação das resoluções do Conselho de Segurança” que “revela a completa falta de respeito pela visão conjunta da comunidade internacional”

 O míssil foi disparado na madrugada de quarta-feira (tarde de terça, no Brasil) de Sain-ni, perto de Pyongyang. Segundo o Pentágono, o míssil teria voado 1.000 quilômetros antes de cair no Mar do Japão e não representou um risco para os Estados Unidos e para seus aliados.

Às 13h30 (16h30 de terça em Brasília) detectamos um provável disparo de míssil proveniente da Coreia do Norte”, confirmou em Washington o porta-voz do Pentágono, o coronel Rob Manning. Já a agência de notícias sul-coreana Yonhap noticiou que o míssil foi lançado para o leste a partir da província de Pyongan Sul.

Ao menos um especialista indicou que a trajetória sugere que Pyongyang poderia ter a tecnologia para lançar um projétil a mais de 13.000 quilômetros, o que colocaria todas as cidades americanas ao seu alcance.

Reações internacionais não tardaram a aparecer. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e seu colega sul-coreano, Moon Jae-In, avaliaram que o novo míssil norte-coreano representa uma ameaça “para o mundo inteiro”.

“Os dois dirigentes destacaram a grave ameaça que a última provocação da Coreia do Norte deixa cair não apenas sobre os Estados Unidos e a Coreia do Sul, mas também sobre o mundo inteiro”, declarou a Casa Branca em referência a conversa telefônica entre os dois líderes.

Mais cedo, o secretário americano de Defesa e chefe do Pentágono, general James Mattis, declarou que o teste realizado representava uma ameaça para o mundo inteiro.  “Este míssil alcançou a maior altura já registrada nos testes norte-coreanos” e representa “uma ameaça para todo o mundo, francamente”, declarou Mattis na Casa Branca.

O secretário de Estado americano, Rex Tillerson, declarou que os Estados Unidos avaliam “as opções diplomáticas” para resolver a crise e que elas seguem “sobre a mesa por enquanto”.

Em declaração lida por seu porta-voz em Washington, Tillerson pediu à comunidade internacional para “tomar novas medidas” à margem das sanções já aprovadas pelo Conselho de Segurança da ONU, “incluindo o direito a proibir o tráfego marítimo de bens de e para a Coreia do Norte”.

Após ser informado da situação na Coreia do Norte, enquanto o míssil ainda estava no ar”, o presidente Trump discursou na Casa Branca, enviando uma dura mensagem à Coreia do Norte: “nós vamos cuidar disso”, afirmou.

Trata-se do primeiro teste com um míssil em dois meses, e oito dias depois de Washington voltar a colocar a Coreia do Norte na lista de países patrocinadores do terrorismo, um gesto que Pyongyang qualificou de grave provocação.

Horas antes, o ministro sul-coreano de Unificação informou sobre a detecção de uma atividade incomum na Coreia do Norte. Um radar de rastreamento de mísseis foi instalado na segunda-feira em uma base norte-coreana não identificada e o tráfego de telecomunicações aumentou, segundo uma fonte do governo citada pela Yonhap.

Escalada

O disparo desta quarta-feira representou uma escalada nas tensas relações entre o regime de Kim Jon-un e o Ocidente. Em 3 de setembro, a Coreia do Norte fez seu sexto teste nuclear, o mais potente até a data. Segundo Pyongyang, se tratava de uma bomba de hidrogênio capaz de ser colocada em seus mísseis de longo alcance.

Em 15 de setembro, menos de uma semana depois que o Conselho de Segurança da ONU adotou novas sanções contra o regime norte-coreano, Pyongyang disparou um míssil balístico que sobrevoou o Japão, a 3.700 quilômetros a leste de seu ponto de partida, segundo Seul.

Desde então, a ausência de lançamentos criou a expectativa de que o endurecimento das sanções da ONU dava frutos.

Washington pede especialmente à China, principal apoio econômico de Pyongyang, que pare de apoiar seu vizinho. Trump se mostrou confiante sobre este aspecto após sua recente visita a Pequim, apesar do ceticismo de muitos observadores.

Os Estados Unidos esperam que quando Kim Jong-un estiver totalmente isolado e submetido a um importante bloqueio econômico e sob as constantes ameaças militares do presidente americano, o líder norte-coreano acabará aceitando negociar seu programa nuclear.

(Estadão)

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